Os
professores das universidades estaduais anunciaram nesta quarta-feira, dia 23,
durante audiência pública na Assembléia Legislativa, que farão uma paralisação
de advertência no próximo dia 30. Eles vão protestar contra a proposta de
negociação salarial da categoria que incorpora gratificações, mas congela os
vencimentos do magistério superior até 2015. Além disso, os professores, com o
apoio dos estudantes, querem anular os efeitos do decreto 12.583, publicado em
fevereiro no Diário Oficial e que cortou despesas relacionadas à contratação e
promoção de servidores, sobre a educação superior. Esse tema foi discutido hoje
na audiência realizada pela Comissão de Educação e Serviços Públicos da Assembléia,
solicitada pelo vice-presidente do colegiado, deputado Bruno Reis (PRP).
A
comissão aprovou a proposta do deputado de enviar às secretarias do
Planejamento, da Fazenda e da Educação um documento pedindo que a educação
superior seja poupada pelos cortes determinados no decreto. Bruno Reis lembrou
que o governo federal, em decreto semelhante publicado em janeiro, deixou as
universidades públicas de fora dos cortes. O deputado solicitou ainda a
revogação da portaria de número 0001, publicada também em fevereiro no Diário
Oficial, e que corta a contratação de cursos, seminários, congressos,
simpósios, capacitação e treinamento de professores, além da concessão de passagens,
adiantamento para deslocamentos e hospedagens.
Todos
os membros da comissão, incluindo a presidente Kelly Magalhães (PcdoB) e os
deputados Bira Coroa (PT) e José Raimundo (PT), os três da base do governo,
concordaram com a proposta de Bruno Reis e prometeram aos professores e
estudantes presentes que irão pressionar o governo a poupar as universidades
dos cortes. “Temos de garantir o mínimo aos estudantes, ou seja, que se garanta
ao menos a presença dos professores em sala de aula. Temos aqui relatos de
disciplinas que estão sem mestre por conta dos efeitos desse decreto, que
impede novas contratações, como é o caso do curso de História do campus da Uneb
de Santo Antônio de Jesus”, disse Reis.
“De
uma vez só, o governador tira professores da sala de aula, coloca obstáculos
para a qualificação dos docentes que necessitam fazer mestrados, doutorados e
estágios e impede o aumento de professores em regime de dedicação exclusiva, na
medida em que suspende a concessão ou ampliação de percentuais de gratificação
por condições especiais de trabalho”, acrescentou o parlamentar.
Fórum
- Segundo Gean Santana, coordenador do Fórum das Associações dos Docentes e
presente na audiência pública realizada na Assembléia, “o decreto publicado
pelo governo institucionaliza o que já vinha acontecendo antes, que é o corte
de investimentos nas universidades”. “O que estamos vendo é que a autonomia das
universidades não está sendo respeitada. Nem a promoção de professores depende
mais dessas instituições. O que é um absurdo, porque esse decreto não tem
sustentação jurídica, pois ele desrespeita uma lei, que é a do Estatuto do
Magistério Superior. O Executivo tenta, dessa forma, legislar”, protestou.
Ele
afirmou que o governo faz propaganda enganosa sobre os investimentos nas
universidades públicas da Bahia. “Esse governo diz que investiu 71% do
orçamento nas universidades, o que é mentira. Esse investimento chega a 43%, ou
seja, é mais baixo do que no período carlista, quando esse percentual chegava a
57%”.
Relatos
de estudantes e professores
Estudante
de História do campus da Uneb de Caetité, Rui Marcos contou que três
disciplinas do curso estão sem professor. “Isso tem prejudicando, sobretudo os
formandos, como eu. Isso sem falar que a universidade está sucateada”, protestou.
Em carta aberta à sociedade, lida pelo deputado Bruno Reis em plenário, os
estudantes de História do campus de Santo Antônio de Jesus, também presentes à
audiência, relataram que 14 disciplinas estão sem professor.
Além
disso, por conta do decreto e da portaria 0001, alguns formandos estão sofrendo
com a falta de professores para a banca examinadora, já que o governo vetou até
gastos com transporte e hospedagem para os docentes. “O resultado é que a
universidade, sem autonomia, tem de ficar mendigando ao governo”, lamentou o
estudante Valter Silva, da Uesc. “A produção científica, que já era baixa, está
despencando por conta desse decreto”, complementou o estudante Cássio Moraes,
que estuda Biologia em Barreiras.
Pró-reitor
da Uefs, Rossini Cruz, presente à audiência na Assembléia, também criticou os
efeitos do decreto e da portaria sobre as instituições públicas de ensino
superior da Bahia. “As universidades precisam de autonomia e de orçamento para
executar um trabalho de excelência”, frisou. Ele pediu que o governo fizesse o
enquadramento dos técnicos que trabalham nas universidades, que também foram
esquecidos pelo Executivo.
Cerca de 150 pessoas,
entre estudantes e professores, participaram da audiência pública.
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